Do Sonho à Primeira Filha: Como Estela e Mariana Fizeram História no SUS com Doação Anônima

Nessa edição especial trazemos o relato emocionante de Estela e Mariana, que dividiram conosco a jornada de transformar o sonho da maternidade em realidade.

Formar uma família sempre foi um sonho em comum para Estela e Mariana. Desde o início da relação, elas perceberam que dividiam valores e objetivos de vida muito próximos e que a maternidade seria uma construção feita a muitas mãos. Com o passar do tempo, esse desejo ganhou força, se transformando em planejamento. Após o casamento e já em um momento de estabilidade profissional, o casal decidiu que era hora de dar o próximo passo: iniciar o processo de Fertilização in Vitro (FIV).

O caminho pelo SUS e o encontro com o Hospital da Mulher

A escolha de seguir o tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) surgiu após muitas pesquisas. Apesar de pouco divulgado, especialmente para casais LGBTQIAPN+, o serviço de Reprodução Humana oferecido pelo SUS possibilita a realização do sonho da maternidade e paternidade sem o alto custo
das clínicas particulares.

Em 2023, Estela e Mariana entraram na fila de atendimento em São Paulo e receberam a tão aguardada ligação para a primeira consulta no Hospital da Mulher. A notícia foi celebrada como um dos grandes “positivos” da jornada, o início de um sonho que, aos poucos, ganhava forma.

Um marco para famílias homoafetivas

Durante o processo, o casal descobriu um gargalo: até então, o SUS só permitia a doação de material genético por familiares, algo que limita bastante a experiência de famílias LGBTQIA+. Mas uma nova parceria entre o SUS e o banco privado PRO-SEED trouxe esperança: a possibilidade de contar com doadores anônimos.

Estela e Mariana se tornaram o primeiro casal atendido no hospital com doação anônima, vivendo um marco histórico que reforça a importância da diversidade de famílias. Para elas, foi mais um grande presente: “O sonho de muitas famílias pode se tornar realidade a partir desse ato. Por isso, incentivar a
doação de sêmen e de óvulos é tão importante. A doação é sempre anônima e pode transformar vidas”.

Entre desafios e alegrias

O processo não foi simples. Mariana recebeu o diagnóstico de endometriose profunda, enquanto Estela descobriu ter baixa reserva ovariana.

Diante dos riscos e incertezas, a notícia da parceria com o banco de sêmen se transformou em um sopro de esperança.

Elas seguiram pelo método ROPA (Recepção de Óvulos da Parceira), em que os óvulos de uma são fertilizados e os embriões implantados no útero da outra, possibilitando uma gestação compartilhada.

Todo o tratamento, inclusive a medicação, foi custeado pelo SUS, um fator que reforça a relevância do sistema público de saúde no acesso democrático à maternidade.

Acolhimento e inclusão

Embora tenham enfrentado barreiras em postos de saúde do bairro, onde o serviço de Reprodução Humana era pouco conhecido e a documentação não era inclusiva, a experiência dentro do Hospital da Mulher foi completamente diferente. Lá, Estela e Mariana foram recebidas com carinho e respeito, sentidos e acolhidas por uma equipe majoritariamente feminina. Além do apoio humano, o processo trouxe mudanças institucionais, mostrando que cada nova família atendida abre portas para outras que virão.

Preparativos e expectativas

Após os três primeiros meses de gestação, o casal compartilhou a boa notícia com familiares, amigos e colegas de trabalho. A partir daí, veio uma onda de carinho e apoio que se mantém até hoje. “Esse afeto nos renova diariamente”, contam. Agora, as duas estão dedicadas aos preparativos para a chegada da
bebê: montar o quarto, organizar o enxoval e celebrar cada pequena conquista.

Entre família e carreira

Conciliar maternidade e vida profissional sempre foi uma preocupação para Estela e Mariana, que não queriam renunciar aos seus sonhos de carreira. Hoje, sentem-se motivadas a conquistar ainda mais espaço, inspirando outras mulheres a acreditar no equilíbrio entre vida pessoal e profissional.

Na Bonin, onde trabalham, o acolhimento também foi essencial: “É uma novidade para nós e para a empresa, mas ficamos felizes em poder compartilhar nossa história aqui, mostrando que existem muitas formas de ser família”.

Uma mensagem para quem sonha em ser mãe ou pai

Com a experiência, Estela e Mariana reforçam: o processo de reprodução assistida pode ser desafiador, mas não precisa ser solitário. O SUS oferece um serviço de excelência e pode ser uma alternativa acessível e transformadora para muitas famílias. “Tudo acontece no tempo certo. Hoje, nossa filha já é muito
amada por uma família que se preparou, lutou e conquistou esse direito”.

O que desejam ensinar à filha

Com a chegada de uma menina, as duas desejam que ela cresça livre para ser quem quiser, sem se prender a rótulos ou expectativas. Como mães e como profissionais, querem mostrar pelo exemplo que é possível trilhar caminhos de autonomia e reconhecimento sem abrir mão da família e dos afetos.

“Acima de tudo, queremos transmitir respeito, empatia, coragem e autenticidade. Que ela saiba que não precisa se encaixar em moldes. O mais importante é viver com verdade, liberdade e amor.”